PRODUTOR DE LEITE: MÁRTIR DE UMA NEGOCIATA?
Usar o Leite como moeda de troca no MERCOSUL é um gol contra
Por: Ricardo Roriz da Rocha*
O Brasil passa por uma grave crise
econômica, politica e social. E o Agronegócio está sendo fundamental no seu enfrentamento. No entanto, muito por ação da grande mídia, o
cidadão brasileiro está sendo levado a acreditar que o “agronegócio” é formado exclusivamente
por latifundiários, magnatas, coronéis e barões. Mas não é assim. De acordo com
o último Censo Agropecuário (1995/96), 85,2% dos estabelecimentos do Brasil são
familiares. Eles totalizam 4.139.369, enquanto que os patronais chegam apenas a
554.501 estabelecimentos. Vale destacar ainda que a pecuária leiteira é a
principal atividade da agricultura familiar no país, com valor de produção de R$
2,4 bilhões de reais, em 1,49 milhões de estabelecimentos.
A cadeia do leite é reconhecidamente uma
das mais importantes do agronegócio nacional sob as óticas social e econômica,
estando presente em todo o território nacional, com papel relevante no suprimento
de alimentos e na geração de emprego e renda para a população.
É sabido, ademais, que a pecuária
bovina tem impulsionado o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do País,
representando quase 25% do PIB Nacional em 2012 (NETO et al., 2013). O setor
leiteiro no País envolve cerca de cinco milhões de pessoas, considerando 1,1
milhão de produtores de leite e seus familiares. E tem sido estimado que o
leite esteja presente em cerca de 90% dos domicílios brasileiros. A quem
interessa acabar com este setor?
Incrível, pois, é observar que
existam “forças ocultas” trabalhando contra este segmento da economia nacional.
Vale a pena repetir: são 1,1 milhões de produtores de leite espalhados em 99%
dos municípios brasileiros. Destruir esta cadeia é aumentar o numero de
desempregados em um país de 14 milhões de “sem trabalho”. Talvez por isto é que
Benedito Rosa tenha escrito o artigo “Todos contra os produtores de leite? ”.
Pode parecer exagerado dizer que, se
não forem tomadas medidas urgentes, o setor leiteiro desaparecerá do cenário
econômico nacional, deixando os consumidores nacionais à mercê exclusivamente das
importações. Usar o Leite como moeda de troca no MERCOSUL é um gol contra que o
Governo Brasileiro marca. Jogando em desacordo com a Constituição, ele favorece
os produtores de outros países, em prejuízo dos produtores brasileiros.
Isto está bem explicado por
Taumaturgo Rocha, em artigo recentemente publicado: “Com efeito, ao disciplinar
a Administração Pública, a Constituição da República determinou – art.
37, caput – que os gestores administrassem bem. E bem administrar
passa pela atenção a princípios como moralidade e eficiência. A eficiência se
expressa em resultados. Os resultados são fruto de ações, para elas servido de
modelo aquela gestada e gerida na conformidade do que preconiza o art. 187 da
Carta, ou seja, com a participação efetiva do setor de produção”,
tanto no planejamento, tanto na execução do que o Constituinte chamou política
agrícola. De ver, a propósito, o prescrito na Lei nº 8.171, de 17/01/91.” Tais
ações são exemplificadas com a Instrução Normativa do Ministério da Agricultura
(MAPA) que autoriza a reidratação e envasamento do leite em pó (IN 40).
O Governo Brasileiro, assim, comete
verdadeiro genocídio, asfixiando, como está, o produtor nacional de
leite, que tem de arcar com o custo Brasil e enfrentar o poderio econômico
internacional ao mesmo tempo. Paga ele cada dia mais impostos. Quase todo dia o
óleo diesel e a energia têm seus preços majorados. E um litro de leite pago ao
produtor gera uma receita menor do que a alcançada com a venda de um copo
d’água ou uma dose de Pinga. Por trás disso, seguramente, estão grupos
econômicos que recebem “leite em pó” como pagamento de suas exportações.
Não é difícil perceber que, se a
cadeia produtiva de leite e derivados em nosso país for reduzida a pó, será,
para dizer o menos, ingenuidade acreditar que não existem interesses escusos
nesta negociata. Talvez, quem sabe, futuras operações “lava a jato” possam contar
a verdadeira história do que vive hoje o Brasil que produz leite.
O produtor de Leite não quer ser
mártir. E não vem pedir vantagens ao governo. Vem cobrar justiça e respeito à
legislação nacional, principalmente à Carta Magna. Não vem sozinho. Vem em
grupo, passando a ser um plural: os produtores brasileiros de leite, que se
uniram em uma associação para combater essas injustiças. A ABRALEITE vem para
ser a voz do produtor.
Com o sentimento de pertença
nacional, porém, toda a população brasileira deve e tem que sair em defesa
deste setor produtivo que no passado proporcionou e segue proporcionando no
presente, desenvolvimento para a nação brasileira. Lutar pelo produtor de leite
brasileiro é lutar em favor do estabelecimento de uma sociedade justa, fraterna
e solidária. Combate de todos, a ser travado em todos os lugares e não apenas
nas arenas esportivas, onde ufanistas cantam que um filho do Brasil não foge à
luta. #somostodosbrasil.
*Ricardo Roriz da Rocha é produtor de leite, membro do Conselho Consultivo da ABRALEITE e também da Câmara Técnica do Leite do Rio Grande do Norte, além de Representante Estadual da Girolando para o Rio Grande do Norte e Diretor do Núcleo do Leite do Rio Grande do Norte.
Comentários
Postar um comentário