O LEITE, A QUERELA COM O URUGUAI E O CONSUMIDOR BRASILERO: POR QUE NÃO É RAZOÁVEL DEIXAR A SITUAÇÃO DO JEITO QUE ESTÁ
Segundo
o Canal Rural, conforme noticiado no início desta semana, o Ministério da
Agricultura do Brasil irá liberar a importação de leite em pó do Uruguai. A
medida em parte já era esperada, mas pegou de surpresa aos produtores de leite
brasileiros ao ser divulgada sem menção a qualquer tipo de política concomitante
à liberação para a limitação desta importação. Esperava-se a criação de cotas
ao leite em pó do Uruguai como forma de diminuir aquilo o que o setor leiteiro
do Brasil tem chamado de “concorrência predatória”.
Em
entrevistas, o presidente da ABRALEITE, Geraldo Borges, fez cobranças ao
ministro da agricultura, Blairo Maggi, no tocante à ausência de cotas ao leite
em pó uruguaio. “Todos os produtores de leite do Brasil estão perplexos ao
saber desta notícia” – disse em uma delas.
A
decisão no sentido da liberação das importações de leite em pó do Uruguai ocorre
após o governo brasileiro ter enviado ao país vizinho uma missão técnica no
intuito de saber se havia risco quanto ao comércio deste produto para o Brasil.
Nesta missão laticínios e o departamento de agricultura do Uruguai foram
visitados por técnicos brasileiros. A conclusão, portanto, foi negativa.
A
Roriz da Rocha Agropecuária, em sucessivos e recentes artigos aqui publicados, tem se posicionado neste particular em favor dos produtores
de leite brasileiros. E o faz por motivos outros além do fato de ser ela
própria também uma empresa produtora de leite – aliás, algo que a orgulha, pois
o setor leiteiro no Brasil está presente em quase todos os municípios, emprega
diretamente mais de 2 milhões de brasileiros, e, com isso, contribui para a
inclusão social e a distribuição de renda em todo o nosso país.
O
faz, também, porque o setor leiteiro possui, como visto, papel social relevante
na economia brasileira. E, todavia, ver-se diminuído em tamanho, e em alcance,
cada vez que um produtor rural é compelido a deixá-lo face à queda vertiginosa
do preço de seu produto. Isto, note-se, em razão de políticas equivocadas, como
a que permite a entrada sem maior regulação do leite em pó uruguaio no Brasil. E
o número dos produtores que abandonam o setor é crescente, conforme noticiado
pela mídia. Em recente matéria, por exemplo, o Zero Hora publicou que 19 mil
produtores de leite haviam largado a atividade apenas no Rio Grande do Sul nos
últimos dois anos. A pergunta que fica no ar é quantos mais serão, daqui para frente?
O
problema mais grave, desta forma, coloca-se ainda para ser vislumbrado em
ciclos futuros, pois a baixa remuneração do leite no presente se dá ao mesmo tempo em
que aos produtores rurais é exigido fazer investimentos em genética, sanidade,
infraestrutura produtiva e alimentação animal. Como equacionar isso? Nesta
busca, infelizmente, mas não ainda irremediavelmente, muitos produtores, e entre eles
sobretudo os pequenos, são conduzidos por necessidade a diminuir a alimentação
do seu gado, reduzir rebanhos ou, como já dito, abandonar a atividade. Num próximo
momento, com isso, a diminuição da produtividade em função do recorrente
abandono do setor por parte de quem por vezes a ele estava integrado havia já gerações inteiras, implicará
em aumento dos preços para os consumidores finais. Menor oferta, afinal,
significa alta dos preços. Portanto, mesmo que agora os consumidores paguem
menos pelo leite, a médio e a longo prazo tais preços conduzem ao desmantelamento
do setor leiteiro e, a partir disto, ao decorrente aumento do seu preço na mesa
dos brasileiros. Seja assim, ou mais ou menos, o fato é que não é nada razoável deixar a situação como ela está. Urge modificá-la.
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